quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Uma vez mamãe...

Então, Pedro...

Ela já era mãe antes de ser sua mamãe, sabia? Eu sabia. Ela não.

Quando a gente se conheceu, ela cuidava da Lillo - que depois virou a nossa cachorrinha, sua e minha, e que depois virou estrelinha - como se fosse filha dela. Mordiscava o sanduíche para partir um pedaço e dar à esfomeadinha, como uma pássara no biquinho do passarinho, no ninho, no nosso ninho, que ela construiu.

Depois, quis ser mamãe de novo, ainda não sabendo (mas eu sabendo), quando teve baita vontade de ter outro cachorrinho, um companheirinho para a Lillinho, e assim trouxe à luz um doidinho, o nosso Marlinho. O Marley virou meu filho também, acho que foi quando virei papai antes de virar... mas essa história você já conhece - e eu já sabia!

Depois, claro, veio você! E a sua mãe agora já sabia que ia ser mamãe, mesmo sem saber que já era. Preparou seu quartinho, as roupinhas, pintou e colou as letrinhas do seu nome, sentiu você virar, revirar, chutar e soluçar, com um brilho no olhar que só pode cintilar nos olhões de uma mamãe como a sua, esses que você herdou dela.
O carinho radiante da sua mamãe
Mas sabe, Pedro... Esse negócio de ser mãe é muito mais uma coisa que nasce com a pessoa do que o jeito que a pessoa fica quando um filhinho vem ao mundo. É um "probleminha" no coração: ele nasce grande demais. E o que a mamãe faz? Passa a vida tentando colocar dentro dele todo mundo. Todo o mundo.

E aí que, sem perceber, a sua mamãe cuida dos clientes e dos colegas no trabalho, da família, dos amigos, dos bichinhos, de mim e de você como só quem é mãe desde sempre sabe ser. É um amor que não tem tamanho, ou é de um tamanho que a gente não conhece, como o coração dela, que vai trazendo a gente pra dentro, e pra dentro, e pra dentro...

Agora, além de todo mundo e o mundo todo, de você, de mim, do Marley... a mamãe tá reservando mais um espacinho/espação no coração, que cresce ao mesmo tempo em que cresce mais um pedacinho de amor que a gente criou junto, sua mamãe e eu: uma nenezinha ou nenezinho, uma irmãzinha ou um irmãozinho!
Olha lá ela... sempre no centro das nossas vidas!
Você está ficando grandão, Pedro. Falta pouco para 3 anos e agora, mais do que nunca, sua mamãe precisa do nosso carinho. O coração e a barriga crescem rápido e às vezes, quando o amor aumenta muito, dói a pele dentro da qual vivemos. Tem que ter muito beijinho e abraço, muita água e amasso (com cuidado), muitas risadinhas dessas que só você sabe dar.

A sua mamãe nasceu pra ser mamãe, mas ela não precisa saber. Ela sabe ser. A gente é que tem de saber que ser mamãe não é fácil, e temos de ser os meninos mais legais e valentes do mundo para amar e proteger a rainha linda das nossas vidas. Ela vai nos trazer uma princesinha ou principezinho, que vai ter o privilégio de, como você, chamá-la de mamãe!

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Vida de brinquedo

Então, Pedro... Em apenas dois outoninhos de vida, você já ganhou uma porção deles. De nós, mamãe e papai, e também de vovós, titios e titias, até dos amiguinhos da escola. Brinquedos. De apertar, de montar, de juntar, de espalhar, de fazer "brum-brum", de fazer "ptíu-ptíu!", de tudo que é jeito. O armário do "su quarto" (adoro o jeito que você fala "mi quarto!" - sei lá de onde surgiu esse espanholito!) já nem aguenta mais de tantos que tem lá, amontoados. 

Tem os preferidos, os preteridos, os temidos, até! 

 Desses zolhões vidrados do Alípio até eu tenho medo!

Mas tem coisas, Pedro, que só eles podem testemunhar sobre a sua vida, com riqueza de detalhes. Há pouco menos de dois anos, eles só recebiam umas palmadinhas de leve e ficavam molhados de saliva. Já faz um ano e meio, uns apertões mais fortes. Tem cerca de um ano, começaram a levar uns baita trancos e, logo em seguida, também pisões, e foram coadjuvantes de algumas de suas adoráveis quedas.


Mais recentemente, eles passaram a ganhar outros tipos de tratamento da sua parte: bracinhos articulados já sobem e descem nas suas mãozinhas hábeis, como se acenassem; as pecinhas de encaixar já ganham ares de edifícios, que, segundos depois, são vítimas dos terríveis desabamentos que você, como um Godzilla-neném, proporciona; carrinhos já se envolvem em corridas, derrapagens, capotamentos e inevitáveis colisões; bichos de pelúcia já participam das suas conversas, ou ao menos ouvem, atentos, os confusos e suaves monólogos que a sua gostosa vozinha profere – enquanto são esmagados ou atirados no chão, é claro.


Quando vejo o Buzz Lightyear cortando os céus da sua imaginação, "caindo com estilo" de tudo quanto é lugar, transformando-se em herói quando salva o Woody de se esborrachar no chão durante a vigésima exibição de Toy Story do dia, ou quando você se transforma nele, voando dos meus braços para o alto e de volta para os meus braços, filho... minha mente vai ao Infinito e Além. Mas meu coração, esse fica bem aqui, tentando entrar em cada uma dessas suas fantasias, vistas a partir desses homens e animais de plástico, e te olhar como um gigante a sonhar os feitos gigantescos que você ainda vai protagonizar.


Quando você faz aquela cara de desafio e diz, como o Buzz, ao pousar na cama do Andy, "voo!" - eu acredito!

Se os seus brinquedos falassem, Pedrinho, eu bateria papo com eles toda noite, até tarde, depois que seu sono já foi abençoado com carinho pela oração materna. E eles me contariam a história fabulosa de uma criança que, novinha de tudo, ficou por demais esperta em um estalar de dedos; o conto fantástico do bebezinho que, de só observar o mundo com olhinhos atentos, passou a coordenar as mais intrépidas aventuras; a saga maravilhosa de um neném engatinhante que foi virando menino voador a olhos vistos, sem precisar de casulo.

Eu daria tudo para me sentar com eles e tomar um chá, como se fosse com a Senhora Marocas, e ganhar mais alguns minutos, horas, dias, talvez, de exibição e análise desse filme-verdade que é o meu filhinho crescendo. Com eles, eu teria mais ângulos, perspectivas, novas versões do roteiro mais bonito, caótico, improvisado e mágico do cinema da vida, que é o desenvolvimento de um ser assim, humano.


Mas eu sei que não dá. Quando eu adentro seu quarto, eles desfalecem de volta à posição de brinquedos inertes que preferem mostrar às pessoas... É melhor para eles. Como os brinquedos do Andy, eles sabem da importância que têm por serem os seus brinquedos e te ajudarem a descobrir um mundo que, enquanto se torna mais real e cruel com o passar dos anos, pode ter, sim, muita alegria e faz de conta.


 Su quarto, mi quarto? No señor! Soldados, avante!

E é melhor que eu só possa, mesmo, ver você com meus próprios olhos: assim eu não invado os bastidores misteriosos onde são criados os caminhos que você vai trilhar. Eu confio nisso e n'Ele que há lá: no Infinito e Além que trouxe esse rapazinho extraordinário para mim.


P.S.: Todas as fotos são do Instagram da minha magnífica companheira e mamãe do Pedrinho, Thaís.

sexta-feira, 14 de março de 2014

A sua voz

Não dá mais pra viver sem ela ecoando por aí, filho. Não dá porque você não para de falar e repetir o que a gente fala (risos), e principalmente porque meu coração faz tumtum junto com meus tímpanos toda vez que você solta seus sonzinhos. Pode ser um grito, uma risada, um pedido de água no meio da noite (e aí um pedido rouquinho chamando a mamãe, que me deixa morrendo de dó e me faz levá-lo até ela), o nome de um brinquedo, o nome do nosso auau, pode ser brumbrum, subí, descê, abrí, fechá... pode ser o gostoso "oi" que você distribui a estranhos, simpático que você é. Qualquer fala sua, Pedro, é uma prova sonora da sua maravilhosa presença, um sussurro que voa pelo ar e chega aos ouvidos, a todo tempo, dizendo: "Estou aqui..!"

Hoje, hoje mesmo, agora, nesse instante terrível em que tento decidir e resolver algo muito importante, que vai mexer com a sua vida, a da sua mãe e a minha, queria muito ouvir sua voz dizendo: "Papai, faz o que seu coração manda. Vai dar certo! Eu acredito em você!" Sei que você ainda não fala essas coisas, com apenas 1 ano e quase 10 meses. Mas sei que, quando eu chegar hoje em casa, der um milhão de beijos na sua mãe e em você, e olhar nos seus olhinhos, o universo vai me responder exatamente isso. Mesmo que eu não pergunte. Mesmo que você não fale. 

Mas é preciso ter voz, filho. Você tem a sua, esse bálsamo que enche a casa - e eu tenho que retomar a minha.