sábado, 11 de agosto de 2012

Pai em minutos

"Quer levantar, papai? Já vai nascer..." Gulp! Levanto-me do banquinho de metal e...

Voltando um pouquinho no tempo, o começo daquele dia foi estranho. Até que conseguimos dormir, sua mãe e eu, apesar de meu joelho e minhas costas estarem me matando... Estava quebrado, como que alcançando o fim de uma gravidez que não era minha (ou era?). Os nove meses que são dez cansaram o papai também, pensa que não? Enfim, nada perto do que aquilo pelo que a mamãe passa, convenhamos.

Sei lá, não era nem mais um frio na barriga, era uma presença, a sua, já nos dando o ar da graça... Mas não conhecer que rosto tinha esse serzinho fazia tudo parecer místico! A gente ia ser apresentado não a uma pessoa qualquer, mas àquele que já tinha mudado as nossas vidas, colocado-a de cabeça pra baixo, que já nos havia transformado tanto em guerreiros protetores quanto em covardes assustados. Só posso pensar em outro Alguém que faz isso com as pessoas, Alguém que também não tem rosto, mas está Aqui, Agora, Sempre... Quem se arrisca? Pois um novo pedacinho Disso, d'Ele, estava chegando!

O resto do dia foi nebuloso, como um sonho, tudo acontecendo meio que no automático. Trabalhei até a hora do almoço, acredita? Ainda bem que isso também rolou no modo auto! Que se dane, meu filho ia nascer! Passeei com os cachorros e a cabeça nas nuvens... Ligavam seus avós dos dois lados, querendo saber os detalhes da ida à maternidade, horários, estacionamento, etc... Cara, tinha muita coisa rolando em volta dessa sua vinda, viu?

Eu procurava ser uma rocha, com o pé bem firme no chão, pra mostrar pra sua mãe que ia dar tudo certo. Eu sabia que ia! Mas estava com medo, é claro. Era tudo muito novo e diferente. Como eu poderia garantir uma coisa dessas, que você seria trazido ao mundo são e salvo? Não dependia de mim. Mas sabe, se dependesse do meu amor e da minha vontade... ia ser o acontecimento mais sereno e incrível da história!

Suspense antes: depois que sua mãe foi levada para a sala de parto, a enfermeira me pediu para esperar um pouco, ainda. Eu ali, todo paramentado, numa salinha com um casal que em breve também ia dar à luz um menininho. Não tinha mais assunto para conversar com eles. Minha emoção era muito grande e até hoje não entendo bem por que fazia tanto esforço para contê-la. Não por muito tempo.

Fui chamado e quando entrei, os médicos já faziam sua magiquinha para te encontrar e puxar de lá de dentro da barriga da sua mamãe! Gelei. Sentei do lado dela, apertei a mão dela, fria, bem forte! Ficava falando pra ela que estava tudo bem. Afinal, se os doutores estavam falando sobre carros e trivialidades, não tinha nada de ruim acontecendo, certo? Não mesmo. "Quer levantar, papai? Já vai nascer..." Gulp! Levanto-me do banquinho de metal e...

Que cabeleira! Foi a primeira coisa que vi! Seu corpinho todo saiu e começou a correria. "Amor, eu já volto!", "Tá, vai lá", sua mãe, meio desnorteada, respondeu. Corri para uma sala do outro lado do corredor atrás das enfermeiras. Elas te deitaram num bercinho e você, preguiçoso, teimava em não respirar. Você tomou sua primeira bronca, em forma de incentivo! "Vamo, Pedro! Vamo respirar, garoto?", enquanto as moças tiravam melequinhas do seu nariz e sopravam ar pra dentro de você com uma bombinha. Até que elas estavam tranquilas. Eu? Quase tendo um treco, mas batia palmas, falava com você, louco pra ouvir sua voz!

Brevemente, uma reclamadinha... "Nhé...", não era suficiente. "Vamo, Pedro!" - "Unhééééé!". O ar voltou pros meus pulmões, entrou pela primera vez nos seus e a água encheu meus olhos, meu rosto, enquanto eu agradecia a Deus. A cor, sua cor de verdade, não aquele roxo/cinza do início, preencheu sua pele percorrendo um caminho sobre você, dando vida a cada celulinha do seu corpo. "Obrigado, obrigado, obrigado!", eu com as mãos juntas, olhando pra cima, dizia.

Então, Pedro... você nasceu! Conferi a fitinha do seu pulso, para termos certeza de que você era você mesmo mesmo. Tirei essa foto enquanto te pesavam, a primeira foto de você fora da barriga. Não sei como encontrei o botãozinho do celular que tirava foto, mas tirei.

 3,246 kg!

Depois, levei você, junto com as enfermeiras, para ver sua mamãe, e os seus olhos abertos encontraram os dela! Putz. Chorei muito mais. Uma crueldade te deixarem tão pouco tempo com aquela que te fez inteirinho, os dedinhos, a orelhinha... o meu amor, a sua mãe. Mas foi para que ela pudesse se recuperar daquele furacão maluco.

Aqueles minutos, Pedro, foram os minutos em que me tornei pai. É o tempo que eu tive pra entender que iria cuidar pra sempre desse pinguinho de gente. Te seguir, acompanhar seus passos, de olho em você o tempo todo, correndo pra lá e pra cá. Eu estava lá, filho, e continuo aqui, te olhando, quase sem acreditar, ainda, no milagre que você é.

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Agora, se me dá licença, vou ali brincar um pouco com você, tá bom? Falando em brincar, com dizem, vai aí uma "trolagem" que eu quis fazer desde que tirei essas fotos. Me perdoa? Te amo!

 Ai, meu Deus! Então quer dizer que eu... eu nasci?!

Tá bom, agora uma atual!