sexta-feira, 9 de março de 2012

...seu pai é maluco!

Hoje fui para o trabalho pensando no que você vai pensar de mim... Bom, eu estava pensando em mim, confesso, tentando me ver pelos seus olhos, que ainda nem conheço, mas foi um jeito interessante de fazer um balanço da minha vida, refletir sobre a imagem que tenho de mim mesmo, a que projeto, e a que os outros têm.

A gente veste muitas máscaras ao longo da vida, meu filho, o que não é legal. É que, para manter de pé esse castelo de cartas que construímos e chamamos de sociedade, democracia, civilidade, etc... a gente precisa atuar, como num teatrinho (será que você já fez alguma peça na escolinha?), e seguir um roteiro para que não acabemos matando uns aos outros por causa de dinheiro, água, comida, política, opinião, religião...

O problema disso tudo é que essa nossa encenação tem sido um grande sucesso de crítica, mas não de público, pois não está tocando o coração de ninguém. As pessoas que escrevem nos jornais e internet adoram falar que essa peça é o máximo, e até falam mal de quem não gosta. Só que ninguém que tem assistido a esse teatro está feliz. Em outras palavras: continuamos matando uns aos outros por causa de dinheiro, água, comida, política, opinião, religião...

Isso me leva a pensar, Pedro, que sustentar essa estrutura tão frágil serve, apenas, para facilitar a vida de quem está lá em cima - e nada mais. Quem está lá em cima são alguns mascarados, também. Eles se disfarçam de agentes do progresso, de geradores de recursos para o mundo, mas, quando essa máscara cai, são só monstros exploradores que se refestelam em luxos e frivolidades, e depois vão para a TV dar dicas de como você pode ser assim, e se tornar, sei lá, o 7º cara mais rico do mundo...

Aqui embaixo, no dia a dia da cidade, do trabalho, do trânsito, da competição, a gente já nem mata por causa de dinheiro, água, comida, política, opinião, religião... A gente nem sabe mais por que mata, sabe? Aliás, a maioria não sabe, mas eu te digo, porque tenho observado bastante: é para continuar sendo visto por esses monstrinhos aí de cima como pessoas úteis e assim, quem sabe, um dia, a gente não se torna mais um deles.

Filho, eu não quero mais usar máscara. O meu rosto você vai poder ver, sempre, exatamente como ele é. E aquele papo que comecei, sobre o que você vai pensar de mim, é mais sobre o que você vai dizer de mim. Tem uns meninos que crescem e se gabam para os outros de que seu pai é um homem bom, trabalhador, justo, honesto... Eles aprenderam direitinho como os pais deles queriam que eles fossem vistos, mas, será que eles viram seus pais de verdade, alguma vez?

Eu quero que você chegue para os seus amiguinhos e fale: “Cara, o meu pai é maluco!” Isso mesmo! “Ele faz umas coisas doidas, umas caras, fala uns negócios esquisitos...” Eu sou maluco, Pedrinho, pois ser normal é muito chato, dá um baita trabalho e tem um preço altíssimo, pois consome tudo o que a gente tem de autêntico, bonito, rico - e o que há de melhor em nós vai sempre vai ser totalmente caótico! Se sou maluco é porque tenho muito amor dentro de mim, para dar à sua mãe, a você, a nossa família toda, amigos, e a quem quiser receber. Esse amor, filho, quando transborda, faz cair máscaras, e nos faz parecer meio idiotas: mas só porque a gente se compara com aqueles monstrengos que descrevi há pouco.

Quando a gente deixa de se comparar, enquadrar, buscar satisfação no simples fato de nos acharem “homens de bem, corretos, batalhadores, blá, blá, blá...”, e de tentar agradar a todos, só por agradar, a gente é livre! E aos olhos dessas pessoas tediosas, a gente vai sempre parecer maluco. Aos seus olhos, também quero ser maluco, mas de um jeito bem diferente. Se sou maluco, filho, é porque percebi que ser feliz não é ser igual a todo mundo e sim ser quem sou. E você é! Te amo, meu maluquinho!