segunda-feira, 7 de julho de 2014

Vida de brinquedo

Então, Pedro... Em apenas dois outoninhos de vida, você já ganhou uma porção deles. De nós, mamãe e papai, e também de vovós, titios e titias, até dos amiguinhos da escola. Brinquedos. De apertar, de montar, de juntar, de espalhar, de fazer "brum-brum", de fazer "ptíu-ptíu!", de tudo que é jeito. O armário do "su quarto" (adoro o jeito que você fala "mi quarto!" - sei lá de onde surgiu esse espanholito!) já nem aguenta mais de tantos que tem lá, amontoados. 

Tem os preferidos, os preteridos, os temidos, até! 

 Desses zolhões vidrados do Alípio até eu tenho medo!

Mas tem coisas, Pedro, que só eles podem testemunhar sobre a sua vida, com riqueza de detalhes. Há pouco menos de dois anos, eles só recebiam umas palmadinhas de leve e ficavam molhados de saliva. Já faz um ano e meio, uns apertões mais fortes. Tem cerca de um ano, começaram a levar uns baita trancos e, logo em seguida, também pisões, e foram coadjuvantes de algumas de suas adoráveis quedas.


Mais recentemente, eles passaram a ganhar outros tipos de tratamento da sua parte: bracinhos articulados já sobem e descem nas suas mãozinhas hábeis, como se acenassem; as pecinhas de encaixar já ganham ares de edifícios, que, segundos depois, são vítimas dos terríveis desabamentos que você, como um Godzilla-neném, proporciona; carrinhos já se envolvem em corridas, derrapagens, capotamentos e inevitáveis colisões; bichos de pelúcia já participam das suas conversas, ou ao menos ouvem, atentos, os confusos e suaves monólogos que a sua gostosa vozinha profere – enquanto são esmagados ou atirados no chão, é claro.


Quando vejo o Buzz Lightyear cortando os céus da sua imaginação, "caindo com estilo" de tudo quanto é lugar, transformando-se em herói quando salva o Woody de se esborrachar no chão durante a vigésima exibição de Toy Story do dia, ou quando você se transforma nele, voando dos meus braços para o alto e de volta para os meus braços, filho... minha mente vai ao Infinito e Além. Mas meu coração, esse fica bem aqui, tentando entrar em cada uma dessas suas fantasias, vistas a partir desses homens e animais de plástico, e te olhar como um gigante a sonhar os feitos gigantescos que você ainda vai protagonizar.


Quando você faz aquela cara de desafio e diz, como o Buzz, ao pousar na cama do Andy, "voo!" - eu acredito!

Se os seus brinquedos falassem, Pedrinho, eu bateria papo com eles toda noite, até tarde, depois que seu sono já foi abençoado com carinho pela oração materna. E eles me contariam a história fabulosa de uma criança que, novinha de tudo, ficou por demais esperta em um estalar de dedos; o conto fantástico do bebezinho que, de só observar o mundo com olhinhos atentos, passou a coordenar as mais intrépidas aventuras; a saga maravilhosa de um neném engatinhante que foi virando menino voador a olhos vistos, sem precisar de casulo.

Eu daria tudo para me sentar com eles e tomar um chá, como se fosse com a Senhora Marocas, e ganhar mais alguns minutos, horas, dias, talvez, de exibição e análise desse filme-verdade que é o meu filhinho crescendo. Com eles, eu teria mais ângulos, perspectivas, novas versões do roteiro mais bonito, caótico, improvisado e mágico do cinema da vida, que é o desenvolvimento de um ser assim, humano.


Mas eu sei que não dá. Quando eu adentro seu quarto, eles desfalecem de volta à posição de brinquedos inertes que preferem mostrar às pessoas... É melhor para eles. Como os brinquedos do Andy, eles sabem da importância que têm por serem os seus brinquedos e te ajudarem a descobrir um mundo que, enquanto se torna mais real e cruel com o passar dos anos, pode ter, sim, muita alegria e faz de conta.


 Su quarto, mi quarto? No señor! Soldados, avante!

E é melhor que eu só possa, mesmo, ver você com meus próprios olhos: assim eu não invado os bastidores misteriosos onde são criados os caminhos que você vai trilhar. Eu confio nisso e n'Ele que há lá: no Infinito e Além que trouxe esse rapazinho extraordinário para mim.


P.S.: Todas as fotos são do Instagram da minha magnífica companheira e mamãe do Pedrinho, Thaís.